O menos pior
Postado em 11/1/2010 às 8:56 por Daniel dos Santos Leite
Drogba faz a festa no Emirates Stadium: a maior manifestação de poder dos Blues em 2009/10
As condições climáticas na Inglaterra travaram a autossuficiência do Chelsea no último fim de semana. O adiamento do teoricamente fácil jogo contra o Hull e a manutenção das partidas de Arsenal e Manchester United colocaram em xeque a liderança e a sensação de soberania do time na Premier League. Contudo, os empates dos rivais diante de Everton e Birmingham e a consequente garantia do primeiro posto anularam a decepção pela impossibilidade de acumular mais três pontos.
O Chelsea, aliás, conquistou apenas nove nas últimas seis rodadas. Com o fraco desempenho recente, o objetivo de alargar a vantagem antes de janeiro, mês da controversa Copa Africana de Nações, não foi cumprido. Durante o torneio, o time não contará com quatro importantes jogadores, dois deles imprescindíveis às pretensões de longo prazo. Ainda assim, o favoritismo dos Blues é quase consensual por conta das sucessivas lesões que atormentam os elencos de Alex Ferguson e Arsène Wenger. Somando os problemas físicos de Arsenal e Manchester United, sete titulares estão indisponíveis.
As dificuldades dos Gunners eram previsíveis. A baixa profundidade do plantel e a afeição dos principais jogadores a graves contusões poderiam ter aguçado o obscuro lado consumista de Wenger já em agosto. A abertura do mercado de inverno, a ausência de van Persie até abril e a instabilidade física de Fàbregas demandam contratações. Especialmente para evitar que o treinador francês analise um empate caseiro de maneira otimista, como fez após o difícil jogo contra o Everton.
Quanto ao Manchester United, as lesões pesam porque se concentram no sistema defensivo e não são compensadas pelas apostas recentes de Ferguson. O escocês gastou 101 milhões de libras (279 milhões de reais) somente com as aquisições de Berbatov, Anderson, Hargreaves, Nani e Carrick. Destes, apenas o último correspondeu às expectativas, mas suas boas atuações em 2009/10 são raríssimas. As saídas de Cristiano Ronaldo e Tevez e a frustração com vários jogadores que deveriam ser fundamentais aumentam o impacto dos reveses físicos durante a difícil temporada dos Red Devils.
Assim, o aproveitamento de 75%, inferior ao habitualmente atingido pelos campeões na Inglaterra, é suficiente para conservar a tranquilidade do conjunto de Stamford Bridge. Para tanto também contribuiu o desempenho do clube em jogos cruciais. O mais emblemático deles, que serve para ilustrar a vantagem do Chelsea na corrida pelo título, foi a vitória por 3 a 0 sobre o Arsenal no Emirates. A fantástica atuação de Didier Drogba naquela partida praticamente dizimava as discussões sobre quem é o atacante do momento.
A má fase não apaga a solidez do 4-3-1-2 à italiana implementado por Carlo Ancelotti. Ainda que a defesa, a melhor da Premier League, tenha enfrentado problemas nos últimos jogos, parece claro que não há no campeonato outra equipe com tanta propensão à consistência. A classe e a imposição física do meio de campo e do ataque garantem ao time a maior produção ofensiva da liga: 17 finalizações (oito na direção certa) por jogo. Além disso, algumas circunstâncias devem facilitar a retomada do bom caminho.
Em virtude da terceira fase da Copa da Inglaterra e do cancelamento da partida contra o Hull, o Chelsea ganhou uma folga de 19 dias no campeonato, importante para Ancelotti estudar as alternativas de que precisará enquanto Essien, Drogba, Mikel e Kalou não voltam. Ballack e Belletti cobrem a ausência do ganês. À frente, uma combinação com Anelka e Sturridge não abalaria o costumeiro esquema, mas é bem possível que outras opções sejam consideradas, especialmente a possibilidade de utilizar Joe Cole e Malouda pelas pontas e apenas um atacante efetivo.
De qualquer forma, o Chelsea não deve ter muitas dificuldades para garantir um bom aproveitamento contra Sunderland (casa), Birmingham (casa) e Burnley (fora), os adversários em janeiro. Sete pontos serão suficientes para o cumprimento do objetivo do mês: a manutenção da liderança. Depois, deve haver reforços, confiança e motivação para afastar o Arsenal da corrida pelo título já no clássico da 25ª rodada, a primeira após os valiosos retornos africanos.
Equilíbrio discutível
"Tenho mais pontos em minha carteira de motorista", dizia Paul Jewell ao final de 2007/08. O então treinador do Derby County fazia referência à lamentável campanha de seu time naquela edição da Premier League. Os Rams se limitaram a 11 pontos e uma vitória (sobre o Newcastle) em 38 partidas, caracterizando um desempenho que gerou comoção e piadas entre os ingleses. Nesta temporada, porém, é provável que nenhum treinador precise recorrer a brincadeiras à moda Jewell para atenuar as consequências de um desempenho ridículo.
A relativa recuperação do Portsmouth, que perdeu seus sete primeiros jogos, sinalizou o equilíbrio na corrida contra o Championship. Do ponto de vista matemático, onze equipes, em maior ou menor escala, devem temer a queda. Apesar da improvável campanha do Birmingham, o campeonato tem se notabilizado por grandes decepções, o que aumentou a dimensão da disputa. São os casos de Everton, ainda que em ascensão, Sunderland, sem vencer há sete jogos, e West Ham, nono colocado na temporada passada.
Não obstante, a tendência é que os três relegados não causem surpresa. A positiva chegada de Avram Grant ao Fratton Park é compensada pela perda de seis jogadores para a Copa Africana de Nações, mas o Portsmouth não pode esperar fevereiro. Assim como o Hull City, abalado pela nova contusão de Jimmy Bullard, Jogador do Mês de novembro na Premier League. O Burnley, por sua vez, sofre com a queda do rendimento em casa e a mudança do treinador Owen Coyle para o Reebok Stadium. Apesar da calamitosa defesa do Wigan, esses parecem ser os principais candidatos ao rebaixamento.
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